domingo, 21 de dezembro de 2014

A inexperiência da juventude e a sabedoria dos anciãos

Hoje assisti a um filme muito fraco, mas que jogou no ar uma frase que me fez pensar: “A juventude é algo muito sério para desperdiçá-la com os jovens”.
Todos os moralistas, os religiosos, os sábios dos clichês e dos lugares comuns, podem desmerecer a fragilidade da inexperiência, fazer a apologia da experiência do ancião, do espírito que se sobrepõe ao desejo, do pensamento que se sobrepõe ao corpo, mas, NADA, NADA MESMO, sobrepuja a liberdade, a vitalidade, o desrespeito aos padrões estabelecidos (semente da criatividade), o desejo incontido e pleno, como essa fase tão angustiante, tão solitária, tão rica e, ao mesmo tempo, tão frustrante como a juventude. 
A juventude é a idade do sonho, quando o sonho se confunde com o viver, com a realidade.
A juventude é o deixar acontecer, o ser plenamente, por outro lado, a maturidade é a luta constante pela sobrevivência, violentar suas convicções pela aceitação na sociedade, o afastamento do seu “ser propriamente”.
Na velhice, somos sábios, mas pesados. Nenhum acontecimento nos surpreende, quase tudo é um déjá-vu, algo que já vimos, ou que não vimos, mas que pressentimos. É o deserto da experiência na sabedoria, na razão crítica.
A juventude somente pode ser vivida e desperdiçada pelos jovens, porque o homem experiente não compreende a leveza do desperdício. O vigor da juventude está no desperdiçar, no desperdiçar da vida. O jovem é imortal, até que morra.
O artista tem o modo de ser do jovem e o jovem tem o modo de ser do artista. Como a maldição do jovem, a maldição do artista é o desperdício da vida, o sacrifício da sua vida no altar da criatividade. O jovem e o artista desconhecem e desdenham a morte, pois somente pensam e vivem a vida.
A frase acima (“A juventude é algo muito sério para desperdiçá-la com os jovens”) é uma mascara para esconder a melancolia da maturidade e da velhice, pois inegavelmente (consciente ou inconscientemente), para os velhos, a juventude é um tesouro perdido, irrecuperável.
Sempre penso que os jovens só falam e pensam merda, disparates, são tolos, afoitos, apressados, desorganizados e desinteressados, mas, apesar de tudo, são jovens, movem o mundo que os idosos querem paralisar. O jovem empurra, o idoso contém.
A sabedoria é apenas um antídoto contra a melancolia da velhice.

Obs: texto escrito mais com os dedos do que com a mente, mais com a intuição do que com a razão.

João Santacruz (dez/2014)



Celulares flores sem perfume

17: 00 horas de 21 de dezembro de 2014
Sala de embarque do Galeão. Estou sentado confortavelmente aguardando o meu voo.
Leio “Judas” de Amós Oz (escritor que a cada livro seu, como eu, levanta a questão: qual o sentido de tudo?).
Levanto os olhos do livro e me assombro ao mirar um deserto de celulares de todos os tipos, cores e tamanhos, que como flores se abrem na extremidade de troncos humanos.
A visão dessa paisagem me angustia, me torna um estrangeiro, me empurra para a solidão.
Volto os olhos para o livro e leio: “Os olhos” disse Guershom Wald, “nunca se abrirão. Quase todos os homens atravessam sua vida, do nascimento até a morte, com os olhos fechados. E se não estamos gritando dia e noite, é sinal de que nossos olhos estão fechados”.


João Santacruz