A inexperiência da juventude e a sabedoria dos anciãos
Hoje assisti a
um filme muito fraco, mas que jogou no ar uma frase que me fez pensar: “A
juventude é algo muito sério para desperdiçá-la com os jovens”.
Todos os moralistas, os religiosos, os sábios dos clichês e dos
lugares comuns, podem desmerecer a fragilidade da inexperiência, fazer a
apologia da experiência do ancião, do espírito que se sobrepõe ao desejo, do
pensamento que se sobrepõe ao corpo, mas, NADA, NADA MESMO, sobrepuja a
liberdade, a vitalidade, o desrespeito aos padrões estabelecidos (semente da
criatividade), o desejo incontido e pleno, como essa fase tão angustiante, tão
solitária, tão rica e, ao mesmo tempo, tão frustrante como a juventude.
A juventude é a idade do sonho, quando o sonho se confunde com o
viver, com a realidade.
A juventude é o deixar acontecer, o ser plenamente, por outro lado, a
maturidade é a luta constante pela sobrevivência, violentar suas convicções pela
aceitação na sociedade, o afastamento do seu “ser propriamente”.
Na velhice, somos sábios, mas pesados. Nenhum acontecimento nos
surpreende, quase tudo é um déjá-vu, algo
que já vimos, ou que não vimos, mas que pressentimos. É o deserto da
experiência na sabedoria, na razão crítica.
A juventude somente pode ser vivida e desperdiçada pelos jovens,
porque o homem experiente não compreende a leveza do desperdício. O vigor da
juventude está no desperdiçar, no desperdiçar da vida. O jovem é imortal, até
que morra.
O artista tem o modo de ser do jovem e o jovem tem o modo de ser do
artista. Como a maldição do jovem, a maldição do artista é o desperdício da
vida, o sacrifício da sua vida no altar da criatividade. O jovem e o artista
desconhecem e desdenham a morte, pois somente pensam e vivem a vida.
A frase acima (“A juventude é algo muito sério para desperdiçá-la com
os jovens”) é uma mascara para esconder a melancolia da maturidade e da
velhice, pois inegavelmente (consciente ou inconscientemente), para os velhos, a
juventude é um tesouro perdido, irrecuperável.
Sempre penso que os jovens só falam e pensam merda, disparates, são
tolos, afoitos, apressados, desorganizados e desinteressados, mas, apesar de
tudo, são jovens, movem o mundo que os idosos querem paralisar. O jovem
empurra, o idoso contém.
A sabedoria é apenas um antídoto contra a melancolia da velhice.
Obs: texto escrito mais com os dedos do que com a mente, mais com a
intuição do que com a razão.
João Santacruz (dez/2014)
Pegando a sua frase " o jovem é imortal até que morra" eu diria ' o jovem é imortal antes de envelhecer". Nesse caso eu poderia dizer que o idoso só se torna velho quando não encontra o sentido da existência pautada na leveza da juventude.Isso é sabedoria
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