Crônica de uma solidão disfarçada
Da
varanda de um bar - Sinuca Bar - vejo o mar (gosto de perceber a rima entre mar
e bar, ambos muito bons quando no raso, mas perigosos na profundidade).
Uma
chuva mansa me convida à melancolia. O mar contribui com suas ondas que se
quebram pausadamente, sonolentamente, na arei da praia.
O
bar é barulhento, só oferece uma única marca de cerveja bem gelada e uma péssima música para alegrar idiotas.
Em
uma juntada de várias mesas, muitos homens, não jovens, maduros mas não idosos,
falam muito alto animadamente. Rola muita energia.
Beijam-se
na chegada de cada um. Abraçam-se a cada momento da conversa, tocam-se, riem,
gargalham, seus olhos brilham e falam muitos palavrões carinhosamente.
A
alegria é genuína e contagiante, às vezes penso que vão dançar em volta da
mesa, como um grupo primitivo em volta da fogueira. Estão a meio caminho de uma
bebedeira (trata-se, realmente, de uma alegria primitiva, puro sentimento).
Na
única mesa com uma cadeira só (ou de um bêbado só) sento eu, contido e feliz,
distante daquela mesa para que não me percebam e não me convidem a participar.
Prefiro
ficar só, não sei lidar com grupos grandes, embora seja sempre mais perigoso
lidar consigo mesmo.
Em
dado momento, me pergunto: o que faço aqui? Na verdade não sei, vim parar aqui,
sem destino ou escolha.
Apenas
sei que estou fora do meu lugar, mas gosto de estar aqui, não entre eles, apenas
próximo a eles.
Aqui
fico lendo, escrevendo esse texto, bebendo, e, principalmente, observando-os de
um lugar onde não me notam.
Escondido
nos vincos da solidão, semi-bêbado, talvez muito bêbado, espiono a felicidade e
escrevo sobre ela.
Santacruz
20/
dez/2013
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