quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Crônica de uma solidão disfarçada

Da varanda de um bar - Sinuca Bar - vejo o mar (gosto de perceber a rima entre mar e bar, ambos muito bons quando no raso, mas perigosos na profundidade).
Uma chuva mansa me convida à melancolia. O mar contribui com suas ondas que se quebram pausadamente, sonolentamente, na arei da praia.
O bar é barulhento, só oferece uma única marca de cerveja bem gelada e  uma péssima música para alegrar idiotas.
Em uma juntada de várias mesas, muitos homens, não jovens, maduros mas não idosos, falam muito alto animadamente. Rola muita energia.
Beijam-se na chegada de cada um. Abraçam-se a cada momento da conversa, tocam-se, riem, gargalham, seus olhos brilham e falam muitos palavrões carinhosamente.
A alegria é genuína e contagiante, às vezes penso que vão dançar em volta da mesa, como um grupo primitivo em volta da fogueira. Estão a meio caminho de uma bebedeira (trata-se, realmente, de uma alegria primitiva, puro sentimento).
Na única mesa com uma cadeira só (ou de um bêbado só) sento eu, contido e feliz, distante daquela mesa para que não me percebam e não me convidem a participar.
Prefiro ficar só, não sei lidar com grupos grandes, embora seja sempre mais perigoso lidar consigo mesmo.
Em dado momento, me pergunto: o que faço aqui? Na verdade não sei, vim parar aqui, sem destino ou escolha.
Apenas sei que estou fora do meu lugar, mas gosto de estar aqui, não entre eles, apenas próximo a eles.
Aqui fico lendo, escrevendo esse texto, bebendo, e, principalmente, observando-os de um lugar onde não me notam.
Escondido nos vincos da solidão, semi-bêbado, talvez muito bêbado, espiono a felicidade e escrevo sobre ela.

Santacruz

20/ dez/2013

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